A crise financeira dos Correios chegou ao auge em 2025, com um rombo histórico que já supera todos os prejuízos registrados desde 2016. A estatal está no vermelho desde um último lucro em 2021 e enfrenta uma escalada de déficits bilionários provocada por aumento de custos, perda de competitividade, má gestão e queda drástica nas encomendas internacionais — agravada pela chamada “taxa das blusinhas”, implementada pelo governo Lula.
Escalada dos prejuízos: de 2022 a 2024
Após lucro recorde de R$ 3 bilhões em 2021, os Correios voltaram ao vermelho em 2022, com prejuízo de R$ 767 milhões. O déficit caiu levemente em 2023 (R$ 633 milhões), mas disparou em 2024, atingindo R$ 2,6 bilhões — o maior desde 2016. A receita líquida caiu para R$ 18,9 bilhões, enquanto os custos subiram 4,7%, pressionados por despesas com pessoal, precatórios e demandas judiciais.
VEJA TAMBÉM:
Entre as principais causas estão a perda de mercado para empresas privadas, o impacto da tributação sobre remessas internacionais — que reduziu a receita em cerca de R$ 2,2 bilhões — e a baixa lucratividade das agências: apenas 15% operam no azul. A gestão sob influência política também é alvo de críticas, com acusações de loteamento de cargos e interferência partidária.
Rombo recorde em 2025 e medidas emergenciais
O cenário se agravou em 2025. No primeiro semestre, os Correios acumularam prejuízo de R$ 4,4 bilhões, superando todo o resultado negativo de 2024. A receita caiu 9,5%, para R$ 8,9 bilhões, enquanto as despesas administrativas dispararam para R$ 13,4 bilhões. Só os custos com precatórios saltaram de R$ 133 milhões para R$ 389 milhões.
Diante de um iminente colapso, a estatal lançou um pacote de contenção em maio, com meta de economizar R$ 1,5 bilhão. As medidas incluem novo Plano de Demissão Voluntária (PDV), corte de jornada e salários, suspensão de férias, retorno presencial obrigatório, venda de imóveis, redução de contratos e a criação do marketplace Mais Correios para diversificar receitas.
Em outubro, o plano foi ampliado, com foco em recuperação de liquidez, corte de despesas e modernização operacional. A empresa atribui parte da crise a “subinvestimentos” de gestões anteriores e à perda de eficiência frente a concorrentes como o Mercado Livre.
Socorro financeiro e mudança de comando
Em meio ao agravamento da situação, o governo Lula anunciou um empréstimo emergencial de R$ 20 bilhões — metade liberada em 2025 e o restante em 2026 —, com garantia do Tesouro Nacional e participação de bancos públicos e privados. Os recursos devem ser usados para capital de giro, PDV e renegociação de passivos.
A medida ocorre após a saída de Fabiano Silva dos Santos, que comandou a estatal desde 2023 e pediu demissão em meio à crise. Em seu lugar, assumiu Emmanoel Schmidt Rondon, que comandou o Banco do Brasil, com a missão de “recuperar liquidez e eficiência operacional”.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu a gravidade da situação e classificou o quadro como de “muita preocupação”. A ministra Esther Dweck (Gestão) defendeu cortes e aumento de receitas, mas admitiu que a perda de mercado internacional foi “devastadora”.
Investigação e reações políticas
O Senado abriu, em 3 de outubro, uma investigação sobre a gestão dos Correios. A Comissão de Fiscalização e Controle aprovou proposta da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), relatada por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), para apurar suspeitas de irregularidades contábeis, gestão temerária e fraudes. O Tribunal de Contas da União (TCU) também acompanha o caso.
A oposição critica o empréstimo bilionário, chamando-o de “golpe na responsabilidade fiscal”. Parlamentares do PL e União Brasil afirmam que o governo tenta “mascarar a má gestão” e alertam que a dívida recairá sobre os contribuintes. Já os Correios afirmam atuar com transparência e atribuem os prejuízos a fatores externos, como a taxação sobre importados e o novo marco regulatório.
Perspectivas: modernização ou colapso
Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontaram que a estatal enfrenta o maior desafio de sua história. Para recuperar competitividade, os Correios precisam investir em tecnologia, automação e logística inteligente — um processo que pode levar de dois a três anos.
Mesmo com capilaridade nacional e relevância social, a empresa perde espaço nas grandes cidades e vê o monopólio postal se esvaziar. A privatização não está no radar do governo, mas alternativas como parcerias público-privadas (PPPs) ganham força como possível saída.
Sem reformas estruturais e corte de privilégios, a estatal deve continuar dependente de socorros públicos — ampliando o peso da crise dos Correios sobre as contas nacionais.