'Não guardo mágoas' – CartaCapital

A sessão em que o ministro Luís Roberto Barroso anunciou sua aposentadoria do Supremo Tribunal Federal foi marcada por um gesto de conciliação com o também magistrado Gilmar Mendes, que usou da plenária para dizer que não guarda mágoas do colega.

Barroso e Gilmar protagonizaram um embate em 2018, em meio a um julgamento sobre doações eleitorais e a revogação da prisão de médicos de uma clínica de aborto.

Na ocasião, o ministro Gilmar Mendes criticou a construção da pauta no plenário, e citou supostas ‘manobras’ dos ministros para votarem determinados processos. Barroso reagiu à crítica de forma enérgica:

“Me deixa de fora desse seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível. Uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia. […} A vida para V. Exa. é ofender as pessoas. Não tem nenhuma ideia. Nenhuma. Só ofende as pessoas. Qual é sua ideia? Qual é sua proposta? Nenhuma! É bílis, ódio, mau sentimento, mal secreto, uma coisa horrível”, rebateu o magistrado.

Após o bate-boca a sessão foi interrompida pela então presidenta da STF, a ministra Cármen Lúcia.

Nesta quinta-feira 9, o decano da Corte usou da plenária para fazer um aceno de respeito e reconhecimento a Barroso. “Sua Excelência sabe do apoio que emprestei — e não foi nenhum favor, mas um dever cívico durante esses dois anos, certamente os mais difíceis da minha vivência no tribunal. Não guardo mágoas. O compromisso tem que ser com a instituição”, declarou.

“Tenho certeza, ministro Barroso, de que a história vai reconhecer o seu papel — não só pela judicatura marcante, mas também pelos anos de gestão, desafiadores e relevantes. Vossa Excelência trilhou o melhor caminho. Um grande abraço. Seja feliz”, completou o ministro.

A declaração foi recebida com um gesto de conciliação por Barroso. “Ministro Gilmar Mendes, a vida nos afastou e nos aproximou”, respondeu o magistrado.

O ministro Barroso decidiu anunciar a sua aposentadoria antecipada nesta quinta-feira 9. Indicado em 2013, o magistrado poderia ficar no STF até 2033, quando completará 75 anos — data-limite para aposentadoria de ministros do STF e de outras cortes superiores.

Barroso indicou que deve se dedicar à vida acadêmica após deixar a Corte. Eu quero servir o Brasil como um intelectual público, alguém que olha o País e pensa, sem cargos, sem deveres”, explicou a jornalistas após o anúncio da aposentadoria.

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