Uma década depois, menos jovens concluem o Ensino Médio com o aprendizado adequado em português e matemática. É o que revela o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025, lançado nesta quinta-feira 25.
Em 2023, apenas 7,7% dos estudantes atingiram o nível esperado nas duas disciplinas. Em 2013, eram 8,3%. O dado também mostra que a aprendizagem não voltou ao patamar pré-pandemia: em 2019, antes da crise sanitária, o índice era de 10,3%. Os números vêm do Saeb 2023 e incluem redes públicas e privadas.
“Estamos diante dos níveis de aprendizagem de estudantes de terceiro ano do Ensino Médio, que passaram o nono ano do Ensino Fundamental e o primeiro ano do Ensino Médio, praticamente todo de forma remota”, pontua Natália Fregonesi, coordenadora de políticas educacionais do Todos Pela Educação, organização responsável pela publicação juntamente com a Fundação Santillana. “São alunos que perderam muito de desenvolvimento nesses dois anos de pandemia.”
Para a especialista, a recuperação exige políticas que priorizem a gestão pedagógica: um currículo bem estruturado, materiais didáticos de qualidade e alinhados às metas de aprendizagem, além de formação continuada consistente para professores. Ela alerta ainda para a fragilidade da formação inicial no Brasil.
O anuário também chama atenção para a explosão do ensino a distância (EAD) na formação docente. Em dez anos, a fatia de concluintes nessa modalidade passou de 31% para 64%. Hoje, 61% das matrículas estão em instituições privadas EAD, enquanto apenas 26% permanecem em cursos presenciais de universidades públicas.
Aprender também depende da renda
Os índices de aprendizagem também oscilam de acordo com o percentual de renda dos estudantes, evidenciando que o combate à desigualdade socioeconômica é fator fundamental na promoção de uma educação igualitária. Entre os 20% mais ricos, a taxa de aprendizagem adequada chegou a 16,3%; enquanto entre os 20% mais pobres foi de 2,4%.
“É fundamental que as redes atuem ininterruptamente na elaboração de diagnósticos de seus estudantes, para entender quem são eles [os alunos], onde estão essas lacunas de aprendizagem, e ir ofertando esses programas de recomposição”, defendeu. “Não dá para esperar que o estudante chegue ao final de uma etapa escolar, o nono ano, por exemplo, para então tentar recuperá-lo.”
Há, no entanto, dados positivos para a etapa escolar. No período, houve uma diminuição importante na taxa de distorção idade-série (estudantes com dois ou mais anos de atraso): de 28,2%, em 2014, para 17,8%, em 2024. O melhor estado nesse quesito é São Paulo, com apenas 9,5%.
O abandono também diminuiu em 2024: desde 2014, a taxa de jovens com 19 anos que concluíram o Ensino Médio passou de 55% para 71%, alcançando os melhores patamares da série histórica.
São Paulo tem queda expressiva em matemática
O estado de São Paulo, o mais rico do País e também o detentor da maior rede de ensino, teve uma queda expressiva no nível de aprendizagem em Matemática, de 7,2% para 4,9%, em 10 anos. O recuo, de 2,3 pontos percentuais, ficou acima da média nacional, que teve de recuo 0,5 pp.
Para Natália, ainda que a queda na aprendizagem possa ser explicada, em parte, pela pandemia, o cenário preocupa justamente por se tratar do estado mais rico do País. “Esperava-se que São Paulo tivesse um melhor desempenho, o que só reforça a necessidade de as redes ofertarem recursos suficientes, tanto do ponto de vista orçamentário, como de gestão, dando prioridade a políticas educacionais com evidências de resultados”, defendeu.
Sérios problemas de infraestrutura
Os dados também mostram que o universo das 179.286 escolas ainda enfrentam desafios basilares de infraestrutura. Apenas 79% das escolas são atendidas por serviço de coleta de lixo e somente 48,2% estão conectadas à rede pública de esgoto. Entre as regiões do Brasil, os números são mais baixos no Norte: a água potável está presente em 62,9% dos estabelecimentos no Acre; no estado de Roraima, apenas 72,3% contam com banheiros.
Também há déficit na oferta de espaços como bibliotecas e salas de leitura, presentes apenas em 47,2% das escolas públicas; quadra de esportes, em 37% delas; e laboratório de informática (27%).
Outro dado que chama a atenção é que apenas 38,7% das escolas públicas possuem climatização, dado especialmente preocupante sensível diante as mudanças climáticas em curso. Na Bahia, esse percentual cai para 29%. Em Minas Gerais, o índice é de 11,7%. O anuário ressalta a necessidade de se moldar uma educação resiliente, que seja capaz de manter o ensino mesmo em situações de crises e desastres, que devem ficar mais frequentes. Defende, no entanto, que a agenda carece de prioridade política e social, com uma abordagem multidimensional, envolvendo ações econômicas, de informação e de reforço nos instrumentos de proteção social.