O preço do café no Brasil acumulou alta de 99,48% entre janeiro de 2024 e junho deste ano, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no país. Depois de 18 meses consecutivos de alta, os dois últimos meses registraram as primeiras reduções de preço, de -1,01% e -2,17%, respectivamente.
O alívio, no entanto, deve durar pouco: a tendência é que o preço do café fique ainda mais amargo para o bolso do brasileiro nos próximos meses.
Em cinco anos, preço do café subiu 192% acima da inflação
Vilão da inflação no ano passado e no início deste ano, o café vem pesando mais no orçamento das famílias há anos. De janeiro de 2020 até o último mês de agosto, o preço do produto no Brasil já acumula uma alta de 230% – ou seja, mais do que triplicou seu valor em pouco mais de cinco anos.
No mesmo período, a variação acumulada do IPCA foi de 37,8%, o que significa que o preço do café para o consumidor subiu 192% acima da inflação. Se no início de 2020 o item correspondia a 0,28% do custo mensal de vida da população, hoje pesa 0,68%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), baseados em coletas apenas nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, mostram uma variação ainda maior.
Conforme o levantamento, em janeiro de 2020, o preço médio do quilo de café torrado e moído tradicional no varejo era de R$ 16,78. Em junho de 2025, chegou aos R$ 66,70 – 297% a mais, ou quase o quatro vezes o valor de cinco anos atrás.
Quebras de safra e aumento da demanda influenciaram no preço do café
Entre os anos de 2021 e 2022, a cafeicultura nacional enfrentou uma de suas piores crises recentes, com a produção da menor safra histórica em razão da estiagem.
No ano passado, novamente a falta de chuvas durante o período de desenvolvimento das lavouras levou muitos produtores a elevarem os gastos para manutenção e combate a pragas, que aparecem junto com as temperaturas mais altas.
Além disso, importantes fornecedores do mercado internacional, como Vietnã e Indonésia, enfrentaram quebras relevantes de produção também em razão de adversidades climáticas, o que fez com que houvesse uma redução na disponibilidade global do grão. Tudo isso em meio a um cenário de aumento no consumo da bebida no mundo.
Com isso, as cotações da saca de 60 kg no Brasil, tanto da variedade arábica quanto da robusta, atingiram suas máximas históricas em 12 de fevereiro deste ano, quando chegaram a R$ 2.769,45 e R$ 2.087,05, respectivamente, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
Com o início da colheita, a partir de março, a expectativa de uma melhor safra no Sudeste Asiático e a redução nas vendas no varejo brasileiro em razão dos altos preços, o valor passou a recuar, chegando, em julho, a R$ 1.682,70 (-39,2%), no caso do café arábica, e R$ 975,70 (-53,2%), no robusta.
No mesmo mês, o IPCA registrou a primeira deflação no café moído, de 1,01%. Em agosto, o produto ficou 2,17% mais barato, conforme o indicador.
Depois de breve alívio, nova alta vem por aí
Agora, incertezas no mercado global provocadas pelas novas alfandegárias impostas sobre produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fizeram a cotação do grão disparar à medida que começa a temporada de compras por países do Hemisfério Norte.
Não bastasse o aumento da demanda, geadas que atingiram cafezais no Cerrado Mineiro nos dias 10 e 11 de agosto provocaram perdas regionais significativas, cujas estimativas entre agentes do setor variam de 400 mil a 600 mil sacas.
O fim da temporada de colheita, neste mês de setembro, confirmou ainda uma produção significativamente menor de café arábica que na safra anterior, devido ao baixo rendimento dos grãos após o beneficiamento.
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Com 96% da colheita concluída, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma produção de 35,2 milhões de sacas beneficiadas da variedade, uma redução de 11,2% em relação à temporada anterior.
A demanda, no entanto, segue uma curva de crescimento. Para o ciclo 2025/26, o consumo mundial de café está previsto em 169,4 milhões de sacas de 60 quilos, o que representa um crescimento de 1,7% em relação à temporada anterior e um novo recorde em termos globais.
Enquanto isso, o estoque mundial no início da safra 2025/26 é o mais baixo dos últimos 25 anos, previsto em 21,8 milhões de sacas de 60 kg, o que representa uma queda de 5,9% na comparação com a temporada anterior.
“Em agosto de 2025, a redução sazonal da colheita no Brasil favorece o aumento dos preços domésticos à medida que o mercado brasileiro caminha para a entressafra”, ressaltam os analistas da Conab.
A alta já deve chegar logo às xícaras e ao bolso do consumidor. No dia 1.º de setembro, duas das principais torrefadoras de café do país anunciaram aumentos nos preços. A Melitta informou seus clientes uma elevação de 15% no preço dos grãos beneficiados, enquanto a 3corações subiu em 10% o valor do grão torrado e moído e em 7% o do café solúvel.
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