Com bandeiras dos EUA e ataques ao STF, bolsonaristas pressionam por anistia em ato na Paulista – CartaCapital

Vestidos de verde e amarelo sob uma bandeira dos EUA, milhares de manifestantes se emocionam ao cantar o hino nacional, durante a abertura do ato bolsonarista de 7 de Setembro na Avenida Paulista. Com o lema “Anistia para os condenados pelo 8 de Janeiro”, a multidão pediu “fora Moraes” e “fora Lula”.

Entre os presentes, há quem acredite que o Brasil vive uma ditadura, e, por isso, é necessário recorrer aos Estados Unidos para pedir ajuda. Não faltam cartazes em apoio a Eduardo Bolsonaro, e agradecimentos ao presidente norte-americano Donald Trump.

Ao longo de três quadras da Avenida Paulista, no entorno do MASP, por todo lado era possível ver bandeiras do Brasil, mas também dos Estados Unidos e Israel, lado a lado. Alguns manifestantes usavam camisetas com a data “1964″ estampada no peito em homenagem ao golpe militar que levou o país a uma ditadura de 21 anos.

Ato bolsonarista na Avenida Paulista, em São Paulo, no 7 de Setembro. Foto: Mariana Serafini/CartaCapital

Uma das presenças mais esperadas, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez coro aos ataques ao Supremo Tribunal Federal. Chamando o ministro Alexandre de Moraes de “tirano”, Tarcísio voltou a defender a anistia e pressionou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

“Paute a anistia, presidente de casa nenhuma pode conter a maioria do plenário. Não pode conter a vontade de mais de 350 parlamentares. Trazer a anistia para a pauta é trazer justiça e resgatar o País”, disse em seu discurso.

O líder do PL, Valdemar da Costa Neto, aproveitou a ocasião para apresentar o irmão de Bolsonaro, Renato Bolsonaro, como a grande aposta do PL para a Câmara em 2026. Enquanto ele discursava, ganhou força o coro “Fora Romário”, em rechaço ao senador e ex-jogador de futebol, membro da sigla.

O presidente nacional da sigla reforçou que o partido não tem “plano B” e rejeitou outras candidaturas ao Planalto, como Tarcísio e Ronaldo Caiado, governador de Goiás. “Nosso plano é Bolsonaro candidato a presidente”, declarou.

Michelle Bolsonaro foi a mais ovacionada entre as lideranças presentes. Com lágrimas nos olhos, a ex-primeira dama falou sobre a prisão domiciliar do marido e disse que há uma “perseguição política”. “Ele gostaria muito de estar aqui ou até entrar em videochamada, porque as nossas liberdades estão cerceadas. A liberdade de locomoção foi cerceada”, afirmou.

Um dos principais organizadores do ato, o pastor Silas Malafaia afirmou que o inquérito das fake news, conduzido por Moraes desde 2019, é “imoral e ilegal”. “Nós temos brasileiros exilados que tiveram que sair do país para não serem presos por causa de opinião. Que democracia é essa?”, questionou.

Ele ainda aproveitou para se defender, já que é alvo de uma investigação que apura uma possível obstrução de Justiça e participação em organização criminosa. “Esse é o modus operandi do ditador da toga, Alexandre de Moraes: colocar medo, calar a boca e travar os seus opositores. Mas ele escolheu o cara errado”, reforçou.

A participação do pastor Malafaia, apesar de ser o articulador do evento, não empolgou a massa, que começou a bater em retirada, por volta das 16h30, depois de uns 15 minutos de fala do líder político.

Quem também não animou a torcida foi o ex-deputado e ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol. Ele não conseguiu agitar a massa até apelar ao jargão “Fora Lula”. Enquanto discursava, parte dos manifestantes o chamou de “traíra”.

O reforço ao tamanho da manifestação, após uma sequencia de atos fracassados, também ganhou espaço nos discursos. Sempre que o drone de cobertura do evento se aproximava, os líderes da manifestação faziam comentários irônicos sobre a quantidade de presentes no ato, anunciada pelos veículos da imprensa.

As críticas à imprensa não poupam nem os veículos tradicionais. Na linguagem bolsonarista, Folha de S.Paulo virou “Foice de SP”, já a Rede Globo foi chamada de “Rede Esgoto”. “O Datafoice vai dizer que tinha duas mil pessoas”, ironizaram sobre os dados do instituto DataFolha.

Segundo estimativa do do Monitor do Debate Político, formado por pesquisadores da Universidade de São Paulo, o protesto reuniu 42,2 mil pessoas. Esse número representa uma queda de 7% em comparação com 2024.

A aposentada Lia Noveli, vestida de verde da cabeça aos pés, garante que Eduardo Bolsonaro está nos EUA “trabalhando para defender o Brasil do comunismo”. Envolto em uma bandeira do Brasil, Ivanoé Zalafam Filho, concorda com Noveli e qualifica como “formidável” a atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos.

“É uma atitude de patriotismo, de desprendimento. Ele abdicou do cargo de deputado e está fazendo muito mais pelo Brasil lá, do que se estivesse aqui, porque dada a atual situação, ele já estaria preso. Estamos nessa ditadura, e seria muito natural que ele fosse preso”. Para o técnico em química, as eleições de 2022 “não foram justas”.

Ato bolsonarista na Avenida Paulista, em São Paulo, no 7 de Setembro. Foto: Mariana Serafini/CartaCapital

O bancário Levi Barbosa, que compareceu à manifestação acompanhado da esposa, disse ter orientado que ela fosse “sem batom”. “Hoje está um perigo, nossa liberdade é cerceada. Imagine ser condenada há anos de prisão porque usou um batom numa manifestação?”, afirmou, em referência à “Débora do Batom”, bolsonarista que foi condenada após escrever “Perdeu, mané”, na estátua da Justiça no 8 de Janeiro.

Figura constante em manifestações convocadas pelo ex-presidente, a esteticista Maria de Lourdes Lima de Oliveira afirmou que não perde uma manifestação, desde a época de Bolsonaro na Presidência. Sobre o julgamento do ex-capitão, ela afirma estar “arrasada com tamanha injustiça”. A manifestante reforça ainda que os condenados pelo 8 de Janeiro são “presos políticos condenados sem julgamento, é um absurdo o que está acontecendo no nosso País”.

Repost

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *