Ícone de Busca

Para além do avanço na balança de exportações e importações, o interesse crescente da China na economia do Brasil nos últimos anos se dá também por meio de investimentos diretos, com aquisições, joint ventures e compras de ativos, além de concessão de crédito, contratos de fornecimento e investimentos em logística e infraestrutura.

Dados de 2025 mostram que o Brasil se tornou o segundo principal destino dos investimentos chineses no exterior. Em período anterior, de aproximadamente uma década e meia, a economia brasileira tinha sido a quarta principal receptora de aportes da China.

Essa movimentação chama atenção lá fora. No mês passado, no projeto de lei do orçamento dos órgãos de inteligência dos EUA para o ano fiscal de 2026, o senador eleito pelo Arkansas Tom Cotton (Partido Republicano) incluiu uma investigação sobre o avanço chinês no setor agrícola brasileiro e seus impactos na cadeia de suprimentos, no mercado global e na segurança alimentar.

De acordo com o levantamento mais recente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), entre 2007 e 2023, o país asiático investiu US$ 73,3 bilhões – quase R$ 400 bilhões na cotação atual – em 264 projetos em território brasileiro.

O setor elétrico brasileiro, por exemplo, atraiu US$ 33,2 bilhões em capital chinês entre 2007 e 2023, o equivalente a 45% do total no período. A indústria manufatureira recebeu aportes que alcançam US$ 5,3 bilhões (7%), enquanto obras de infraestrutura absorveram US$ 3,3 bilhões (5%) de empresas chinesas. A agricultura recebeu diretamente US$ 2,4 bilhões (3%).

VEJA TAMBÉM:

  • China investe pesado e amplia influência econômica sobre o Brasil

  • Setor do aço dos EUA alerta para risco de domínio chinês sobre níquel brasileiro

Considerando o estoque de investimentos no período 2007-2023, o Brasil foi o quarto país que mais recebeu aportes da China no exterior, sendo o único considerado em desenvolvimento dentre os cinco maiores receptores de capital produtivo chinês no mundo.

A liderança é dos Estados Unidos, com US$ 193,6 bilhões, seguidos pela Austrália (US$ 102,6 bilhões) e Reino Unido (US$ 99,9 bilhões).

Em 2025, Brasil recebeu 10% de todos os aportes chineses no exterior

No primeiro semestre de 2025, o Brasil foi o segundo mercado que mais recebeu investimentos chineses diretos, atrás apenas da Indonésia, segundo o China Global Investment Tracker, plataforma de monitoramento mantido pelo think tank americano American Enterprise Institute (AEI).

De janeiro a junho, as empresas chinesas aportaram US$ 22 bilhões mundo afora. O Brasil recebeu 10% do total, ou US$ 2,2 bilhões, 5,3% mais que nos seis primeiros meses de 2024 (US$ 2,09 bilhões).

A Indonésia, por sua vez, foi contemplada com US$ 2,59 bilhões, queda de 22,9% na comparação anual.

VEJA TAMBÉM:

  • Após alerta dos EUA, China defende presença na América Latina e nega exportar autoritarismo

No último dia 11, os mandatários brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e chinês, Xi Jinping, conversaram por telefone em meio à disputa comercial travada entre o país asiático e os Estados Unidos, que recentemente impuseram um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros.

Segundo a agência estatal chinesa Xinhua, Xi afirmou na ligação que a China “está pronta para trabalhar com o Brasil para dar o exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do Sul Global”.

Disse ainda que os laços entre os países estão “em seu melhor momento histórico”, com “um futuro compartilhado e o alinhamento das estratégias de desenvolvimento dos dois países tendo um bom início e progredindo sem percalços”, ainda de acordo com a agência.

Já Lula declarou que, na conversa, os países se comprometeram a “ampliar o escopo da cooperação para setores como saúde, petróleo e gás, economia digital e satélites” e que querem continuar identificando “novas oportunidades de negócios entre as duas economias”.

Investimento chinês no Brasil cresce 33% em meio a recuo de aportes estrangeiros no mundo

Somente no ano de 2023, último disponível no levantamento do CEBC, os investimentos chineses no Brasil somaram US$ 1,73 bilhão, uma alta de 33% em relação ao ano anterior.

O crescimento ocorre sobre uma base de referência relativamente baixa, uma vez que houve queda de 78% nos aportes no ano anterior. Ainda assim, revela um movimento atípico dos chineses de retomada no interesse sobre a economia brasileira, uma vez que os investimentos externos no Brasil de forma geral recuaram 17% em 2023, segundo o Banco Central (BC). 

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) calculou uma queda de 7% no fluxo global de investimentos estrangeiros e de 13% na entrada de recursos externos na economia brasileira. 

Já a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) indicou queda de 2% nos investimentos externos no mundo, de forma geral, e de 10,2% nos aportes estrangeiros no Brasil. 

VEJA TAMBÉM:

  • Modelo da GWM durante inauguração da fábrica em Iracemápolis (SP).

    Invasão chinesa: como BYD e GWM ultrapassaram velhas conhecidas do brasileiro

“A China vem adotando uma postura mais cautelosa e seletiva em relação aos investimentos externos por diversas razões”, diz trecho de análise do Bradesco, que patrocinou o levantamento do CEBC. 

“A priorização da agenda doméstica e o ambiente geopolítico global mais austero levam o país asiático a ajustar suas estratégias e a focar em parceiros estratégicos, dentre eles o Brasil”, prosseguem os analistas do banco. 

Embora os Estados Unidos mantenham o posto de principal origem de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, a China ampliou significativamente sua participação com capital no país nos últimos anos. 

De acordo com relatório do BC, os aportes de empresas com controle final americano sobre companhias brasileiras saltaram, entre 2010 e 2023, de US$ 109,7 bilhões para US$ 272,9 bilhões, um aumento de 148,7% em 13 anos. 

A China, por sua vez, saltou de US$ 7,9 bilhões para US$ 53,2 bilhões, o equivalente a 575% de crescimento no indicador no mesmo período. Com isso, o país asiático saltou de 16.º para 5.º entre as origens do capital estrangeiro investido no Brasil.

Repost

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *