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O setor siderúrgico dos Estados Unidos fez um alerta ao governo do país sobre o possível aumento da “influência direta” da China nas reservas internacionais de minerais estratégicos em meio à negociação de uma planta produtiva de níquel brasileira. A Associação Americana de Ferro e Aço (AISI) afirmou que a compra das operações da Anglo American no Brasil por uma empresa controlada por Pequim levaria a “vulnerabilidades” na cadeia de suprimentos minerais no mundo.

O negócio envolve a MMG Limited, empresa australiana controlada pela estatal chinesa China Minmetals Corporation, que pretende adquirir 100% das operações de níquel da Anglo American no Brasil ainda neste ano. Para os norte-americanos, se confirmada, a transação consolidará a posição chinesa como protagonista do mercado de níquel, que já é dominado por investimentos de Pequim na Indonésia, país com as maiores reservas conhecidas do mineral.

“Caso seja concretizada, a China passaria a ter influência direta sobre uma parcela substancial das reservas brasileiras de níquel, somando-se à sua posição dominante na produção da Indonésia, o que agravaria as vulnerabilidades já existentes na cadeia de suprimentos desse mineral crítico”, afirmou a AISI em uma carta ao Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) que a Gazeta do Povo teve acesso.

A reportagem procurou o governo brasileiro e o Ministério das Relações Exteriores mais cedo para comentarem as afirmações da correspondência e aguarda retorno.

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A carta ao embaixador Jamieson Greer, do USTR, foi enviada no dia 18 de agosto e tornada pública nesta semana. A correspondência assinada pelo presidente do AISI, Kevin Dempsey, pede também que o órgão procure o governo brasileiro para apresentar “essas preocupações” e que “explore alternativas” para preservar as reservas.

“O AISI solicita respeitosamente que o Escritório do Representante de Comércio dos EUA apresente essas preocupações ao governo brasileiro. É fundamental que o Governo do Brasil explore alternativas que preservem a propriedade orientada ao mercado desses ativos estratégicos de níquel e garantam que o futuro acesso a esse mineral crítico permaneça aberto e justo”, pontua a carta.

Dempsey destaca que o níquel é fundamental para a produção de aço inoxidável, respondendo por cerca de 65% da demanda global, e que as reservas internacionais do mineral estão concentradas em poucos países, com a Indonésia na liderança, seguida por Austrália e Brasil.

“Como resultado dos grandes investimentos chineses nas reservas e produção da Indonésia, a China já controla uma parcela significativa da produção global de níquel”, ressalta a correspondência.

Segundo a AISI, a Anglo American produziu cerca de 40 mil toneladas de níquel em suas operações brasileiras em 2023, incluindo atividades de mineração e refino integradas. A planta da companhia anglo-sul-africana está localizada na cidade goiana de Barro Alto e foi avaliada em US$ 500 milhões – o equivalente a mais de R$ 2,7 bilhões.

“Juntas, as reservas brasileiras e indonésias representam quase metade dos recursos mundiais de níquel”, apontou a entidade, reforçando que a soma dos dois países em mãos de grupos sob domínio de Pequim elevaria o risco de concentração e dependência.

Ainda de acordo com a entidade, o governo dos Estados Unidos já documentou distorções significativas no setor de matérias-primas da China, em especial por meio de subsídios estatais, financiamentos não orientados ao mercado e restrições de exportação. Para o setor, a compra das operações da Anglo American se insere nessa lógica de expansão e controle.

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