As Forças Armadas da Alemanha (Bundeswehr) demitiram 97 militares em 2024 por condutas consideradas extremistas de direita ou por associação a grupos extremistas. O número representa um aumento de 56,4% em comparação a 2023, quando 62 soldados foram expulsos pelo mesmo motivo.
Entre os comportamentos relatados estão a repetição da saudação a Hitler, comentários racistas, vínculos com grupos inconstitucionais e o canto de músicas extremistas.
O número de incidentes desse tipo também cresceu. Dados do Ministério da Defesa apontam 280 casos suspeitos identificados em 2024, 30% a mais que no ano anterior. Em 2024, a Alemanha já havia registrado um recorde de crimes de extrema direita em todo o país.
As informações compõem uma resposta preliminar do governo alemão a um ofício protocolado por Zada Salihovic, parlamentar do partido A Esquerda, e foram obtidas pela emissora alemã WDR. Um relatório detalhado do Escritório de Coordenação para Casos Suspeitos de Extremismo deve ser divulgado na próxima semana.
Militares repetiram gesto nazista
Na Alemanha, manifestações de caráter extremista como a apologia ao nazismo, a incitação ao ódio contra grupos étnicos e a participação em organizações inconstitucionais são criminalizadas.
Entre os relatos descritos no relatório, por exemplo, está o de um soldado que teria cantado músicas extremistas e repetido diversas vezes a saudação nazista. Segundo os dados obtidos pela WDR, 17 militares realizaram o gesto com o braço direito estendido e a palma da mão voltada para baixo, e outros 50 são suspeitos de fazê-lo.
“Considerando a ameaça representada por extremistas de direita com treinamento militar, esforços maiores são necessários. Quem rejeita a democracia não deve ter permissão para usar uniformes ou armas”, disse Zada Salihovic. Segundo ela, ao menos 60 militares suspeitos de extremismo continuam a ter acesso a armas após os incidentes, e 20 atuam como instrutores.
Defesa vê número pequeno, mas endossa investigações
Para o comissário parlamentar das Forças Armadas, Henning Otte, avanços legais têm permitido que a Bundeswehr penalize casos de extremismo dentro de suas fileiras, o que ajuda a explicar o aumento dos números. Em 2023, o governo alterou a Lei dos Soldados, o que facilitou a demissão de militares envolvidos em atividades extremistas.
Por outro lado, Otte cobrou mais agilidade na investigação e na implementação das medidas. “É inaceitável que casos suspeitos, especialmente novos, aguardem tempo demais pela revisão”, disse à WDR.
O órgão responsável por identificar tais casos é o Serviço de Contrainteligência Militar (Bamad), que em 2024 realizou 305 operações de contrainteligência. Destas, 200 estavam relacionadas a extremismo de direita.
Para o Ministério da Defesa da Alemanha, os 280 incidentes registrados representam uma proporção pequena frente ao seu efetivo de 180 mil militares e 80 mil funcionários civis.
“Nenhum caso de extremismo pode ser tolerado. O combate ao extremismo de direita é uma das maiores ameaças à democracia e permanecerá nossa prioridade máxima”, afirmou um porta-voz da pasta.
Como mostrou a DW, menos de 1% dos soldados alemães nutre atitudes consistentemente extremistas de direita, segundo um estudo conduzido pelo Centro de História Militar e Ciências Sociais (ZMSBw) da Bundeswehr.
O relatório, no entanto, revelou outras visões problemáticas entre os soldados: 6,4% apresentam atitudes misóginas consistentes e 3,5% atitudes xenófobas.