França inaugura regime de prisão de segurança máxima – CartaCapital

A França iniciou nesta semana uma operação inédita para isolar os narcotraficantes mais perigosos em uma prisão de segurança máxima. O centro penitenciário de Vendin-le-Vieil, no norte do país, foi totalmente reformado e é apresentado como uma tentativa de enfraquecer as redes do crime organizado. Os 17 primeiros detentos foram transferidos nesta terça-feira 22.

Diante do avanço do crime organizado e do aumento da influência de grandes redes de narcotráfico, a França decidiu adotar uma estratégia mais rigorosa para conter a ação dos chefes do tráfico após sua condenação. Inspirado por modelos estrangeiros de sucesso no combate à máfia, o governo francês inaugurou um novo e restritivo regime de segurança máxima em uma de suas prisões, com o objetivo de isolar completamente os criminosos mais perigosos do país e impedir que continuem a operar suas atividades ilícitas de dentro das celas.

Segundo o ministro francês da Justiça, Gérald Darmanin, os detentos transferidos nesta terça-feira fazem parte de um grupo de 100 narcotraficantes considerados “os mais perigosos” do país. A transferência mobilizou um dispositivo reforçado de segurança, com sete caminhões escoltados por policiais até a entrada da prisão. De acordo com sindicatos de agentes penitenciários, a operação ocorreu sem incidentes.

Para garantir o isolamento total dos detentos, as autoridades francesas implementaram um conjunto de medidas rigorosas nas novas unidades de segurança máxima. Uma das primeiras providências foi o reforço tecnológico: bloqueadores de sinal foram instalados para impedir o uso de celulares e drones, dificultando qualquer tentativa de comunicação clandestina com o mundo exterior.

O regime de comunicação com familiares e advogados também se tornou extremamente restrito. As ligações telefônicas, agora limitadas a apenas duas por semana, serão totalmente monitoradas em tempo real pelas autoridades penitenciárias. As visitas presenciais ocorrerão em espaços equipados com vidros blindados e comunicação feita exclusivamente por meio de interfones, eliminando qualquer contato físico entre detentos e visitantes. Outro ponto importante é a proibição das chamadas unidades de vida familiar, espaços anteriormente reservados para encontros prolongados com parentes, que deixam de existir para esse grupo de presos.

Os controles diários também serão mais rígidos. Os detentos serão submetidos a revistas obrigatórias após qualquer contato com o exterior, e os pátios são totalmente cimentados para impedir a ocultação de objetos. Os deslocamentos dentro da prisão serão feitos de forma individual e sob constante vigilância, aumentando o nível de controle sobre cada movimento dos presos.

Algemas antes mesmo de sair da cela

Cada cela tem 12 m² e grades duplas. Além disso, barras adicionais foram colocadas nas janelas, isolando ainda mais os detentos. Portais de detecção de alta tecnologia e trancas que permitem algemar o detento antes mesmo de abrir as portas também foram instaladas.

O monitoramento do complexo penitenciário também foi intensificado, com a instalação de aproximadamente 450 câmeras, garantindo vigilância permanente. Para lidar com o perfil de alta periculosidade dos detentos, o número de agentes de segurança foi elevado, estabelecendo uma proporção de funcionários por preso muito superior à média das demais prisões francesas. Segundo os primeiros números divulgados, o estabelecimento contará com cerca de 250 vigias para 100 detentos.

Por fim, visando a proteção dos próprios agentes penitenciários, foram adotadas novas regras dentro da unidade. Os funcionários agora circulam sempre em grupos de três e não portam crachás com nomes ou números de identificação, medida que busca protegê-los contra possíveis ameaças ou represálias vindas de dentro ou fora da prisão. Essas mudanças, inspiradas em modelos italianos de combate à máfia, refletem a prioridade das autoridades francesas em romper, de forma inédita, todos os laços entre os líderes do crime organizado e suas redes externas.

Críticas e questionamentos

A iniciativa, contudo, não está livre de controvérsias. Advogados e o Sindicato da Magistratura criticam a falta de transparência na seleção dos presos que serão enviados para a prisão de segurança máxima e alegam que a defesa tem pouco espaço para contestar as transferências. “Um dos detentos foi condenado por assalto, não por tráfico, e mesmo assim foi submetido ao regime”, denunciou a advogada Sophie Rey-Gascon.

Também é contestado o retorno das “celas de alta segurança”. Esse tipo de unidade de isolamento total foi abolida na França há mais de 40 anos sob o argumento de ser ineficaz e prejudicial para os detentos.

Vendin-le-Vieil já abriga nomes conhecidos, como Salah Abdeslam — condenado à prisão perpétua pelos atentados terroristas de Paris em 2015 — e Rédoine Faïd, famoso por múltiplas fugas espetaculares. O narcotraficante Mohamed Amra, cuja fuga sangrenta em maio deste ano causou a morte de dois agentes, também deve ser transferido para a nova prisão em breve.

Até 31 de julho, cerca de 60 presos devem estar sob o novo regime, com a meta de chegar a 100 até setembro. O plano prevê ainda a abertura, até outubro, de um segundo setor de segurança máxima na prisão de Condé-sur-Sarthe, no oeste francês.

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