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O Brasil é o líder mundial no comércio de commodities agropecuárias e o terceiro maior produtor de frutas, atrás apenas da China e Índia, mas está apenas ma 23ª posição entre os exportadores desse mercado de maior valor agregado. À frente estão países como Espanha, China, Países Baixos, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, África do Sul, Turquia, México e Guatemala, destaca a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas)

A fruticultura brasileira exportou US$ 1,3 bilhão no ano passado, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). As vendas são lideradas pela manga, melão, uva e limão. O volume total, cerca de 1,1 milhão de toneladas, corresponde a menos de 1% da produção total do setor.

Uma série de fatores ajuda a explicar o quadro e mostra que há um longo caminho a ser percorrido para conquistar uma fatia maior do mercado internacional. Para o presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho, essa trilha passa por novos acordos bilaterais, projetos de irrigação, especialmente no Nordeste, melhores condições logísticas e uma organização maior de pequenos produtores em cooperativas.

“Muitos países, especialmente na América Latina, que exportam significativamente mais que o Brasil, o fazem por terem uma população muito pequena”, diz Coelho. “A produção desses países é suficiente para abastecer seu mercado interno reduzido, permitindo que o excedente seja exportado de forma robusta.” 

No Brasil, que tem uma população de mais de 210 milhões de habitantes, a dinâmica acaba sendo um pouco diferente, explica ele. “Mas essa diferença populacional não ameniza nem justifica que nosso número de exportação não seja o dobro ou o triplo do que é atualmente”, afirma.

Fruticultura brasileira se destaca de concorrentes

Na comparação com a concorrência internacional, o Brasil tem uma série de vantagens. Frutas como melão, melancia e uva são produzidas durante todo o ano, por meio de um cronograma de poda e colheita. “Se você observar o Chile ou a África do Sul, que exportam uva, eles têm apenas uma safra por ano. Um importador da Alemanha, por exemplo, não pode ter uva chilena o ano todo porque lá as videiras têm um período frio, de dormência. Aqui, a produção é contínua.”

Além disso, a variedade de biomas, climas e solos permite que o país tenha uma das maiores diversidades de frutas do mundo. Estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina, por exemplo, concentram a produção de maçã. Do Pará e do Amazonas vem o açaí. Em São Paulo, limão e abacate. Manga e a uva saem do Vale do São Francisco para todo o país. Melão e melancia da região do Rio Grande do Norte e Ceará. 

Em termos de certificação internacional, tanto de natureza ambiental quanto social, também não há restrições para exportação de frutas brasileiras.

Abertura de novos mercados tem aumentado exportações de frutas

“O que realmente impulsiona ou retém a exportação é a disposição mútua entre dois países: um querendo exportar e o outro querendo importar”, diz Coelho. Ele cita como exemplo a negociação para exportação de uvas e melões brasileiros para a China. A carta de intenções foi assinada em 2021, e a abertura do mercado foi anunciada em novembro de 2024. 

“Hoje, o Brasil pode exportar duas frutas para a China: melão e uva. Mas isso é muito recente. Estou otimista de que, até o final do ano, faremos o primeiro embarque”, afirma. 

Apesar de o mercado já estar aberto, até agora não havia um serviço de transporte marítimo viável, uma vez que o tempo médio de trânsito era de 46 dias, o que é inviável para frutas perecíveis. Há cerca de 15 dias, houve o anúncio de um novo serviço de transporte que reduzirá o tempo para cerca de 28, o que é perfeito para frutas. 

Para o presidente da Abrafrutas, o esforço feito pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e do Ministério de Relações Exteriores (MRE) nesse sentido e a parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) nos últimos anos tem sido importante para impulsionar as vendas externas.

Em 2020, o Brasil exportava US$ 880 milhões em frutas, US$ 415 milhões a menos do que no ano passado. Em 2024, o avanço, em valor exportado foi de 4,6% em relação ao ano anterior, depois de um aumento de 26% entre 2022 e 2023. “Isso demonstra que não há limite para o crescimento; estamos avançando, mas para crescer, precisamos de outras ações”, diz Coelho.

Irrigação do semiárido, logística e cooperativismo podem impulsionar exportações

Uma das medidas defendidas pelo setor para impulsionar a produção e a exportação é um investimento maior em projetos públicos de irrigação, com foco especial no Nordeste. Parado há décadas, uma iniciativa que aumentaria a produção de frutas na região seria a do Canal do Sertão Pernambucano, que levaria água do rio São Francisco para áreas semiáridas de Pernambuco e da Bahia.

A ideia está no papel desde a década de 1990, quando a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) avaliou a viabilidade de implantação do canal, que atenderia 112 mil hectares de terras irrigáveis. Cerca de 60 mil a 80 mil hectares poderiam ser destinadas à fruticultura, diz Coelho.

A implantação do canal foi um dos compromissos do governo federal quando, em 2005, a administração pernambucana assinou o contrato de adesão à transposição do rio, mas desde então não houve avanços. “Estamos buscando apoio do governo federal ou de Pernambuco para o projeto executivo, que é o passo para a licitação e implantação de novas áreas para a fruticultura”, diz o presidente da Abrafrutas. 

“Nosso grande diferencial global é o semiárido nordestino. É uma região com 3 mil horas de sol por ano e uma abundância de água do rio São Francisco. Mesmo em áreas afastadas do rio, como no Rio Grande do Norte ou Ceará, há água de subsolo de excelente qualidade e quantidade.”

A questão logística também poderia ser melhor, na avaliação do setor. Ao contrário dos grãos, a perecibilidade dos produtos coloca cargas em risco quando há atrasos e exigindo o uso de câmaras frias.

Outra ação estratégica seria a adoção da cultura do cooperativismo e do associativismo entre pequenos produtores, que representam uma parcela significativa da fruticultura. Comum em estados como o Paraná e o Rio Grande do Sul, o modelo é pouco adotado no setor em regiões como o Nordeste, onde 70% das terras são de pequenos produtores. “Muitas vezes, o pequeno produtor vê a exportação como algo complexo e inacessível, preferindo vender para o mercado interno ou para intermediários”, explica Coelho. 

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