O sociólogo e professor André Ricardo de Souza aponta que o “cansaço” com o extremismo político no meio evangélico pode estar entre os fatores que explicam a desaceleração no crescimento da religião no Brasil. “Talvez possa ter gerado um certo cansaço, fadiga, recusa de parte dos evangélicos diante de posições bastante incisivas de alguns pastores em relação ao [ex-presidente Jair] Bolsonaro (PL) e ao bolsonarismo”, afirma em entrevista ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Embora o número de evangélicos tenha crescido e represente agora 26% da população, o ritmo da alta diminuiu pela primeira vez desde 1960, segundo o Censo 2022 divulgado nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para o professor, além da exaustão política, o aumento dos brasileiros que se identificam como sem religião também ajuda a explicar esse freio. “Jovens filhos de evangélicos que antes tenderiam a se identificar como evangélicos também podem, neste momento, estar se identificando como sem religião”, analisa.
Ao comentar o perfil político do eleitorado evangélico, o sociólogo afirma que o segmento segue como desafio para a esquerda. “Continua sendo um segmento com bastante peso político-eleitoral, e que a esquerda no país tem sérias dificuldades”. Ele lembra que cerca de 70% dos evangélicos votaram em Bolsonaro no segundo turno da eleição que o elegeu, em 2018. Recentemente, o PT lançou um curso gratuito para tentar se aproximar da comunidade evangélica.
Apesar de ainda haver projeções que apontam uma futura superação dos católicos pelos evangélicos, como uma estimativa de que isso ocorreria em 2049, Souza pede cautela. “Temos no país uma cultura católica que vem desde o Brasil colônia. […] Não colocaria como algo certo que haverá uma transição. Acho que é uma possibilidade em aberto.” Segundo ele, o catolicismo pode ter ganhado fôlego devido ao legado deixado pelo papa Francisco, com a Economia de Francisco e Clara, por exemplo, voltada a jovens, e com a simpatia que o pontífice despertou mesmo entre pessoas não religiosas.
Outra novidade comentada por Souza é o crescimento das religiões de matriz africana. “O segmento das adeptas das religiões afro-brasileiras, umbanda e candomblé, que triplicou de 0,3% para 1%, é a grande novidade desse levantamento censitário.” Já o espiritismo sofreu queda, o que, para ele, também pode estar relacionado a desgastes provocados por posicionamentos políticos conservadores entre seus membros.
A respeito do aumento dos brasileiros que se identificam como sem religião (agora em 9,3%), Souza pontua que isso não significa, necessariamente, um país menos religioso. “São pessoas que têm religiosidade, mas não têm religião. Estão em trânsito, porque a quantidade de ateus e agnósticos é bem pequena”, pondera.
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.