O traficante Fhillip da Silva Gregório, de 37 anos, conhecido como “Professor”, figura central do Comando Vermelho (CV) e um dos principais responsáveis pela logística de armas e drogas no Rio de Janeiro, foi morto na noite da última segunda-feira (02) em circunstâncias ainda nebulosas dentro do Complexo do Alemão, zona norte da capital carioca.

Morte sob suspeita

Segundo informações iniciais, o traficante foi baleado na cabeça e chegou a ser socorrido para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na zona norte, onde a morte foi confirmada. A primeira versão apresentada à polícia foi a de suicídio, alegada pela amante dele, identificada apenas como Gabi.

Em depoimento, a jovem de 25 anos contou que foi até a localidade após ser chamada por “Professor”, para conversar sobre uma possível reconciliação. Ele não estaria na casa quando ela chegou. Um tempo depois, segundo a jovem, o traficante teria chegado bêbado e passado a xingá-la com diversos palavrões. Ainda de acordo com o depoimento, em certo momento, “Professor” quebrou o celular dela e apareceu com uma arma na cintura. Segundo o boletim de ocorrências: “[A amante] alertou-o sobre o uso da arma, pedindo para não beber mais, pois sempre se descontrolava. [Professor] respondeu que daria um tiro no pé da declarante, chegando a apontar a arma, mas recolocando-a na cintura após repreensão da declarante.” A mulher afirma que, nesse momento, se ajoelhou diante dele e pediu “que a deixasse seguir sua vida”. Em seguida, apontou a arma para a própria cabeça, dizendo: “Quer ver eu me matar por sua causa?”, e, após breve hesitação, disparou contra si, caindo no sofá. Ainda segundo a amante, ela correu para pedir ajuda, foi abordada por outros traficantes da área e chegou a ficar “sob custódia” desses homens por um tempo. Após ser liberada, entregou a arma à Polícia Civil.

Quem era o “Professor”

Fhillip Gregório era considerado um dos principais chefes do tráfico no Complexo do Alemão, mais especificamente na favela da Fazendinha. A importância dele no CV ia além do controle territorial: ele era o cérebro logístico por trás da aquisição e transporte de armamentos, drogas e munições para diversas regiões dominadas pela facção.

Preso em 2015 com 100 kg de cocaína em um sítio, foi condenado a 14 anos por tráfico de drogas e associação criminosa. Em 2018, já cumprindo pena em regime semiaberto no Instituto Penal Edgard Costa, recebeu o benefício da Visita Periódica ao Lar, mas não retornou. Desde então, era considerado foragido da Justiça.

Mesmo foragido, manteve-se ativo e estruturado. Reformou a mansão no Complexo do Alemão, onde instalou uma piscina, hidromassagem e até um pequeno centro cirúrgico clandestino. Lá, realizou uma lipoaspiração, um implante capilar e a retirada de um projétil alojado na cabeça.

Um império montado com sangue, armas e dinheiro

Relatórios da Polícia Federal revelam que o “Professor” movimentou aproximadamente R$ 1,2 bilhão em três anos apenas com a compra e revenda de armas. Estima-se que ele tenha sido responsável pela entrada de mais de 43 mil armas no Brasil, entre fuzis e pistolas, com fornecimento direto do argentino Diego Dirisio, considerado o maior contrabandista de armas da América Latina, preso pela Interpol no ano passado.

Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça também mostram a participação de policiais militares no esquema. Em troca de propina para não reprimir o tráfico, PMs se comunicavam com Fhillip por mensagens. Em uma delas, um policial reclamou do valor recebido: “Favela grande, só manda isso?”, denunciando o grau de infiltração do crime nas instituições públicas.

“Benfeitor” da comunidade

Além do tráfico, o “Professor” buscava legitimar a influência através de ações sociais. Financiava bailes funk e shows de pagode, distribuía brinquedos a crianças, e custeava medicamentos e consultas médicas para moradores da comunidade. A Polícia Federal entende essas iniciativas como estratégias para fortalecer a imagem de liderança e ampliar a rede de proteção popular.

O impacto no Comando Vermelho

A morte de Fhillip da Silva Gregório não é apenas o fim de uma figura simbólica do tráfico no Rio. Internamente, o Comando Vermelho perde um dos seus “matutos”, termo usado na facção para designar operadores logísticos de alto escalão. Com a morte de “Professor”, as autoridades acreditam haver o risco de disputas internas por poder, aumento da violência e desorganização das rotas de fornecimento de armamentos e drogas.



Fonte: AloJuca

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