Diz o ditado que não se faz uma omelete sem quebrar os ovos. Agora, nos EUA, quebrar ovos está pesando cada dia mais no bolso dos consumidores. No Brasil, por motivo diferente, também.
Nos EUA, uma crise de abastecimento provocada pela gripe aviária fez os preços dispararem. De acordo com dados do Bureau of Labor Statistics (BLS), o aumento foi de 15% em janeiro e 55% se comparado com o ano passado. Esse foi o maior aumento de preços desde 2025. O preço médio da dúzia bateu 7,34 dólares na primeira semana de fevereiro, 10% de aumento em relação à semana anterior. Algo em torno de 42 reais. Em alguns supermercados as bandejas já chegam a 70 reais.
Desde o início do surto de gripe aviária, foram cerca de cem milhões de aves abatidas, trinta milhões somente desde outubro de 2024 segundo a United Egg Producers.
Pisando em ovos
Por aqui, os ovos também estão mais caros. O Centro de Estudos de Economia Aplicada aponta um aumento generalizado nas regiões auditadas, com destaque para Belo Horizonte, onde os preços do produtor para o varejo subiram 95%. No Brasil, porém, o problema não é sanitário, e sim econômico: o crescimento da demanda por ovos como substituto de outras proteínas tem pressionado os preços, já que a produção não acompanhou esse aumento do consumo. A ABRAS — associação que representa o varejo alimentar — estima um reajuste de cerca de 40% no período. E a tendência é de alta: com a chegada da Quaresma, época em que muitos consumidores deixam de comer carne até a Páscoa, a procura pelo produto deve crescer ainda mais.
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal, em dados divulgados em dezembro, o consumo per capita no país deveria fechar o ano em cerca de 269 ovos, um aumento de 11,2% em relação a 2023. A produção total foi de 57,6 bilhões de unidades. Presente em todas as camadas sociais por ser, ainda, uma proteína barata e versátil, o ovo pode se tornar mais um fator de pressão sobre a cesta básica. Desde 5 de março do ano passado, o item passou a integrar oficialmente a cesta, conforme determinado pelo Decreto 11.936.
Os ovos em outra cesta
O mercado global de ovos vem crescendo e enfrentando desafios, principalmente sanitários, mas também tem atraído o interesse de grandes conglomerados. Não por acaso, a JBS, gigante global no setor de proteínas, decidiu entrar no segmento. A empresa adquiriu 48,5% da Mantiqueira Alimentos, maior produtora de ovos do Brasil e a décima maior do mundo. A Mantiqueira possui 17,5 milhões de aves, produz 4 bilhões de ovos por ano e exporta para mercados como Estados Unidos, Ásia, América do Sul, Oriente Médio e África.
A entrada no setor faz sentido estratégico para a JBS, que busca ampliar seu portfólio e aproveitar sua capacidade global de negociação. Além disso, a empresa tem experiência em grandes operações internacionais. A Mantiqueira, que já era uma competidora de peso no mercado global, ganha ainda mais força com o suporte da JBS.
O mundo é um ovo
Em 2021, o Brasil ocupava a 17ª posição no ranking de consumo per capita de ovos, ficando atrás de países como México, China, Japão, Malásia, Argentina, Rússia e Estados Unidos, segundo dados da OCDE/FAO. Para efeito de comparação, no mesmo período, o consumo per capita no México era de aproximadamente 407 ovos. A produção global de ovos gira em torno de 90 milhões de toneladas por ano.
O aumento do consumo de ovos se deve, essencialmente, a dois fatores. Primeiro, o ovo continua sendo uma das proteínas mais acessíveis em comparação com outras fontes alimentares. Além disso, faz parte das tradições gastronômicas de praticamente todos os países, especialmente nas regiões de forte tradição agrícola, onde a criação de galinhas sempre esteve integrada à paisagem rural.