O mundo caminha para a multilateralidade, mas as organizações multilaterais estão em crise. Longe de um jogo de palavras, esta é a constatação essencial a partir da perda de efetividade do Conselho de Segurança das Nações Unidas, da falta de consequências práticas de decisões do G–20, de impasses surgidos em reuniões de organismos voltados para meio ambiente, comércio internacional e direitos humanos, em meio ao acirramento da disputa Ocidente–Oriente.
Ao mesmo tempo, há uma crescente disputa política em blocos de interesses específicos, como os BRICS, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Liga Árabe e o G–7, entre outros. Se nos fixarmos apenas nos BRICS, aos quatro integrantes iniciais presentes em sua fundação em 2009 – Brasil, Rússia, Índia e China − somaram-se mais 19 até a cúpula de Kazan, em outubro último. A Otan contempla 32 países, liderados pelos EUA, a Liga Árabe 22 e o G–7 segue como o principal fórum dos países mais ricos do Ocidente, aos quais se agrega o Japão. Não se trata de comparar atividades do sistema ONU com outros arranjos internacionais, mas de perceber que o multilateralismo enfrenta tensões e insuficiências sérias no mundo pós-crise de 2008.