O dia do trabalhador é talvez umas das datas mais simbólicas e significativas para mundo pós-moderno, e deverá continuar a ser, para o mundo pós contemporâneo, haja vista as inúmeras modificações sensíveis para as relações de trabalho.

Em setembro de 1882 nos Estados Unidos, o Dia do Trabalho começou a ser comemorado, num contexto diferente do que, hoje consideramos esse dia.

Naquela ocasião trabalhadores de Nova York se reuniram em uma parada, com direito a desfile portando estandartes e instrumentos musicais.  E tinham como objetivo demonstrar a força e prosperidade da classe. E sobre esse aspecto, é que devemos voltar a atenção.

O dia do trabalhador, deve, em ultima análise expressar a força de homens e mulheres, brancos, negros, jovens e adultos, que unidos, mantém a sociedade que conhecemos, e como ela se dá, a partir das contribuições de suas experiências, conhecimentos, técnicas, e sobretudo, da força realizadora, capaz de manter e dignificar famílias e lares em todos os recantos da terra.

Sobretudo no Brasil, um país com uma história recente de colonização e que durante quase 400 anos usou mão de obra escravizada, com uma classe média que não se percebe assalariada e que se rebela todas as vezes em que se fala em garantias de direitos aos trabalhadores.  E não raro, escândalos de trabalhos em condições análogas à escravidão estampam os noticiários, em fabricas nos grandes centros do país, em fazendas, e nas casas de figuras da classe média, que permanentemente insistem em reproduzir o colonialismo cruel, recrutando jovens de famílias humildes e explorando-as em afazeres domésticos sob o pretexto de dar oportunidades na cidade grande.

O 1º de maio é feriado em diversos países ao redor do mundo, incluindo o Brasil, Rússia, França, entre outros, onde é reconhecido como o Dia Internacional dos Trabalhadores. E a comemoração do dia foi sancionada pelo presidente Artur Bernardes em setembro de 1924, começando a valer no ano seguinte.

No entanto, durante a o período do Presidente Getúlio Vargas a comemoração toma outros contornos. O 1º de Maio passa a ser um espaço de pauta para anúncios de melhorias nas relações de trabalho, especialmente após a lei que regulamenta o salário mínimo, nesse dia, os reajustes do salário eram anunciados. É com Getúlio que é efetivada a Consolidação das Leis do Trabalho, e se abre um novo capítulo nas relações de trabalho, o que garantiu direitos aos trabalhadores. Essa mesma CLT que foi dilacerada entre os governos Temer-Bolsonaro, reelaborando as relações de trabalho para a redução de direitos e garantias trabalhistas.

E não há como falar em dia do trabalhador, sem falar sobre a questão racial que é preponderante na construção social do brasil, e sem expor que a fragilidade do tema, e as dificuldades dos avanços, se assentam, exatamente naquilo que mais feriu o país: A escravidão. Se couber uma comparação, o dia do trabalho, está para o trabalhador, assim como o 20 de novembro está para as lutas e o debate racial no Brasil.

Impossível não considerar os efeitos deletérios que a escravidão promoveu nas relações de trabalho no brasil, especialmente, por que temos no pais 55,8% de pretos e pardos, e que pessoas negras são maioria em postos de trabalho informais e ganham 61% menos que pessoas brancas. Estes dados apontam para as assimetrias sociais, constituídas ao longo processo histórico de formação do país, e revelam a quem essa realidade é submetida.

O papel do 1º de maio é retornar o trabalhador para o centro do debate, na construção de um projeto de pais, que considere, especialmente no Brasil as suas demandas, sobretudo, como está constituída essa força de trabalho. E que não há um debate apenas localizado na perspectiva de empregado e patrão, nem tão somente, que o protagonismo, seja feito dentro das organizações sindicais, que são importantes nesse processo, mas esse é um debate de interesse precípuo dos trabalhadores, e essa é a principal tarefa a ser compreendida e executada.

É a retomada do protagonismo do trabalhador, com poder de agencia sobre seus interesses e na compreensão do seu lugar no mundo, nas relações que estão inseridos.  A força do trabalhado reside nele próprio, na capacidade de enfrentar as adversidades diárias as quais está submetido.

A oportunidade para o agora e os novos tempos, é de direcionar essa força para a luta dos seus próprios interesses, enquanto classe que segura e sustenta esse país.

Trabalhadores brasileiros uni-vos!

Nilo Cerqueira é articulista e escreve para Portal SSA semanalmente, aos domingos.

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